sábado, 14 de março de 2009

Peter Drucker e o futuro da administração no mundo e no Brasil


A ênfase central de Drucker é na realização do ser humano. Seres humanos só se realizam sendo produtivos. Organizações são importantes porque são o instrumento para que eles sejam produtivos, e a administração é "a mais importante invenção do século XXI" porque é a disciplina específica para que as organizações cumpram esse papel. Peter Drucker encaixou o homem e o que ele produz na aventura humana maior. Não produtos, não empresas, não tecnologias. Pessoas. Sempre partiu delas. Seu livro sobre a GM dos anos 40, The Concept of the Corporation (O Conceito da Corporação), é um manifesto a favor dos empregados. Já naquela época, Drucker queria que a empresa passasse a vê-los como recursos, não como custos. Sugeriu equipes autogerenciadas, entre outras coisas. A GM não topou, mas, 30 anos depois, pressionada pelos japoneses, teve de seguir suas recomendações a um custo altíssimo.


Segundo Drucker este movimento está levando o mundo ao:

O papel do capital na economia, hoje, está sendo desempenhado pelo conhecimento. A Revolução Industrial aplicou o conhecimento às máquinas, a revolução da produtividade de Frederick Taylor aplicou conhecimento ao trabalho e a revolução gerencial de meados do século 20 aplicou conhecimento ao conhecimento.


A continuidade desse processo é que está moldando a nova sociedade -- aplicação contínua de conhecimento novo ao que já se conhece. Novas tecnologias não vão "resolver o futuro". O que vai resolvê-lo é tornar o conhecimento produtivo de maneiras originais. Isso é 100% válido para o Brasil. Conhecimento é portável, transferível, não tem barreiras geográficas. A globalização é uma conseqüência disso. É errado pensar que há um jeito brasileiro de administrar. É errado achar que, por sermos brasileiros, precisamos de conhecimento específico brasileiro, como se nossa produtividade tivesse uma especificidade mulata ou tropical. Como se os brasileiros fossem seres humanos diferentes. Drucker desmontou essa idéia em uma palestra no ano de 1994, depois que alguém tentou argumentar que "aqui no Brasil é diferente". Não é. É igual.


[...] Muitas pessoas ficam a imaginar o que Peter Drucker diria dessa tendência do Brasil de manter o controle das empresas, eternamente, nas mãos de seus donos tradicionais. Nossas práticas de "governança" como mostra um recente estudo da McKinsey disponível na internet não coincidem com sua visão sobre o que deve ser uma empresa. Claro que há justificativas históricas (e recentes) para isso: no pandemônio inflacionário de alguns anos atrás, com congelamentos e planos miraculosos se sucedendo, as empresas tinham de responder com uma agilidade que só a centralização do poder torna possível. Mas será que isso justifica, ainda hoje, a falta de interesse dos empresários brasileiros num tema que é essencial para posicioná-los (e ao Brasil) seriamente diante da comunidade internacional. Drucker diz: O que derrotou o marxismo foi a aplicação de conhecimento ao trabalho. Quer dizer, foi a administração. O fato, inquestionável, é que graças a isso os trabalhadores começaram a viver melhor. O ideal igualitário marxista naufragou ao colidir com um rochedo de hambúrguer. O segredo que se descobriu foi: trabalhar com mais inteligência é mais produtivo do que trabalhar mais. O que faz alguns países crescer de forma sustentada não são novas tecnologias, novas organizações e novos conceitos gerenciais.

[...]A nova sociedade da qual o Brasil tem de querer participar como ator, não como figurante é o oposto disso. Nela, o trabalhador vai ser valorizado por seu conhecimento individual. O conhecimento é dele, não da empresa, não do sistema. A empresa precisará mais dele do que ele dela. E não estou falando necessariamente de MBAs ou de diplomas universitários.


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